Os discursos e sistemas de representação permitem a instalação de pontos de apoio que dão às pessoas um lugar de onde possam se posicionar e falar. A partir deles produzimos significados para dar sentido à nossa história de vida, além de abrir oportunidades para construir o que somos ou o que podemos vir a ser. As representações, como processo cultural, podem criar identidades individuais e coletivas, sendo que os sistemas simbólicos tratam de responder indagações sobre quem somos, o que queremos ser, o que poderíamos ser.
Castigar os costumes - diferentes! - por meio do riso é uma prática reconhecida em todos os lugares em que grupos humanos de culturas diversas dividem os mesmos espaços sociais. Ao menos é isso o que se pode deduzir ao ler o que Alan Dundes observa em “Cracking Jokes” (1987) a respeito de comparações feitas por diferentes povos sobre etnicidade e caráter nacional. Diz ele que o estudo das ofensas tradicionais envolve vários elementos, como estereótipos, tipos nacionais, etnocentrismo, imaginário, preconceito e humor. Além disso, se é verdade que onde há ansiedade também haverá piadas para expressá-la, parece estar formado um caldo de cultura para se tentar compreender um pouco a respeito do riso que um grupo étnico lança sobre outro. Por exemplo, usa-se dizer que alemão é belicoso e gosta de fazer guerra, mas isso não quer dizer que todo alemão seja belicoso ou goste de fazer guerra. Ou que italiano é barulhento e pão-duro, embora se saiba que nem todo italiano seja barulhento e pão-duro. Talvez aqui seja possível buscar sinais que iluminem o processo do riso acionado pelas tiras de Radicci (Zero Hora – Porto Alegre) e Blau (De Fatto – Novo Hamburgo).
Como foi colocado, as piadas étnicas são construídas, entre outros elementos, pelo preconceito e o estereótipo. Talvez estes dois aspectos sejam os mais relevantes para se tentar um comentário esclarecedor. Se o preconceito for uma opinião formada sem exame crítico, elaborado de antemão a partir de certas circunstâncias, aparências ou até pela educação, possivelmente causará dano ao ser manifestado, pois estará expondo uma distorção. A essa distorção poderia-se chamar estereótipo, que usa ser designado, também, como conceito padronizado sobre pessoas, povos, raças, ideologias... É como se o estereótipo configurasse um clichê. A partir dele, os diferentes grupos em contato começarão a elaborar ofensas, trocadilhos, anedotas - e cartuns ou tiras cômicas, por que não? - uns sobre os outros para exprimir seus desagrados ou apontar focos de tensão.
Nos casos de Blau e Radicci, os próprios autores – os cartunistas Bier e Iotti - pertencem às etnias representadas pelos personagens. Mas isso não significa que não tenham incorporado estereótipos nominados a partir dos outros grupos étnicos do estado. E, mais ainda, que não tenham aprendido a rir de si mesmos apropriando-se dos estereótipos alheios anteriormente usados para ofender, talvez numa tentativa de se fazerem melhor compreendidos e mais bem sucedidos no desenlace das piadas que desenham. Dundes lembra que a distinção entre o que as pessoas dizem sobre outros grupos e o que elas dizem sobre si mesmas é crítica. Mas a auto-imagem não está mais livre da influência do estereótipo do que as imagens tradicionais de outros grupos. Isto quer dizer que a especulação aqui feita sobre os autores e personagens pode ter fundamento.
Além disso, talvez não seja equivocado afirmar que o insulto contido numa piada seja o sinal mais claro de diferença entre dois grupos, pois assim se identificam e se reconhecem um frente ao outro. Isto é, quanto mais riem uns dos outros, melhor se integram ao mosaico étnico sul-rio-grandense.
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Extraído da Dissertação de Mestrado O DESENHO DE HUMOR NO RESGATE DA IDENTIDADE CULTURAL - Análise de personagens étnicos em um semanário gaúcho, de
Augusto Franke BIER
domingo, 7 de agosto de 2011
segunda-feira, 1 de agosto de 2011
quinta-feira, 30 de junho de 2011
terça-feira, 28 de junho de 2011
segunda-feira, 6 de junho de 2011
domingo, 22 de maio de 2011
sábado, 7 de maio de 2011
quinta-feira, 28 de abril de 2011
O cangaço de gravata 2
quinta-feira, 31 de março de 2011
domingo, 20 de março de 2011
A história se repete com Obama...
terça-feira, 8 de março de 2011
domingo, 6 de março de 2011
sexta-feira, 4 de março de 2011
Profissional
quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011
domingo, 13 de fevereiro de 2011
terça-feira, 8 de fevereiro de 2011
Semeando a cizânia na capital...
segunda-feira, 24 de janeiro de 2011
Cagalhando em Capão
Capão da Canoa, a exemplo de outras praias gaúchas, permitiu que a espepculação imobiliária erguesse uma muralha de edifícios separando o resto da cidade do mar. Nem vou perguntar se os vereadores e o prefeito comeram bola das construtoras, mas a verdade é que o lugar ficou horrível. O interessante é que nem durante a baixa temporada o esgoto local dá conta da demanda. O serviço trata apenas 25% da merda da população. Donde se conclui que, durante o verão, aquele marzão onde você toma banho e a rapaziada surfa não é marrom por causa da chuva...
sábado, 22 de janeiro de 2011
Piada de 1977
Este cartum foi publicado numa página pra novos talentos de humor, que circulava aos sábados, dentro do segundo caderno (Guia) de ZH, e editado pelo Juarez Fonseca. O bacana disso tudo é que Juarez abriu em ZH um espaço que a ditadura havia fechado na Folha da Manhã em 1975. A iniciativa pioneira, editada pelo Fraga e o Edgar Vasques, intitulada Quadrão, que lançou no mercado nomes hoje conhecidos do cartum, como o Santiago, o Juska e o Tonho - ah, e eu! -, continuava a viver. Um dia alguém vai escrever detalhadamente sobre isso. Muito obrigado, Fraga, Edgar e Juarez. O que seria de nós sem vocês?
quinta-feira, 13 de janeiro de 2011
quarta-feira, 12 de janeiro de 2011
quinta-feira, 6 de janeiro de 2011
terça-feira, 4 de janeiro de 2011
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