terça-feira, 29 de dezembro de 2009

Fim de ano do vovô

Augusto Franke, meu avô materno, instalou comércio em Santo Ângelo (RS) em 1924. Esta foto tirada nos anos 1930 mostra uma confraternização de fim de ano dos funcionários da Casa Franke. Vovô está sentado atrás do barril deitado, usando gravata a suspensórios.

terça-feira, 15 de dezembro de 2009

A chuva dá um tempo - pra se recompor!


Este desenho foi censurado no dia 15/12/2009 no site do SindBancários por obra da pressão
feminista das ressentidas de plantão. Aliás, a entidade prefere o site ao blog, porque teme
a interação e o diálogo da imprensa com a base. Além disso, o senso de humor das lideranças
definitivamente não é seu ponto forte.
Nada de novo no meio sindical...

terça-feira, 17 de novembro de 2009

Faço, mas não me acostumo!


Tá chegando o final de mais um ano. Pra quem já passou dos 40, é hora de fazer o exame periódico do dedinho (do médico). E não me apareçam no consultório usando cueca cor-de-rosa!

quinta-feira, 5 de novembro de 2009

Eu na Feira do Livro


Hoje, 5 de novembro, às 19h30min, vou autografar meu livro de poemetidinhos SERENATA PARA UMA JANELA FECHADA (Nova Roma), no pavilhão de autógrafos da Feira do Livro de Porto Alegre. E amanhã, dia 6, autografo no happy hour do Sebo Café, em Santo Ângelo, no encerramento da Semana de Cultura do município, que este ano homenageia meu saudoso amigo Leverdógil de Freitas. Apareça! Não precisa tomar banho!


segunda-feira, 2 de novembro de 2009

Dia dos Finados


Esta charge eu fiz no dia seguinte ao sepultamento do meu pai, o capitão de infantaria e professor de inglês Ernesto Maximiliano Bier, em 4 de janeiro de 2009. Era debochar da morte pra suportar a dor...

terça-feira, 20 de outubro de 2009

Naziazeno e os ratos


Em 1935 o dublê de psiquiatra e escritor DYONELIO MACHADO lançou o livro "Os Ratos", no qual o principal pesonagem, Naziazeno, ao juntar dinheiro para pagar uma dívida, começou a se atormentar pelo medo de que os ratos roessem as cédulas economizadas. O romance é ambientado em Porto Alegre, no entorno do Mercado Público. Por volta de 2003 o diretor de teatro Néstor Monastério me encomendou estudos para uma peça baseada no livro. Esta porta é uma delas.

sexta-feira, 16 de outubro de 2009

Piracicaba 1977


Em agosto de 1977 eu estava com 18 anos e participava pela primeira vez do Salão Internacional de Humor de Piracicaba (SP), oportunidade em que conheci o Henfil, o Jaguar, o Fortuna, o Crist e outras feras do grafismo e da resistência à ditadura militar. Dez anos depois, foi lá que levantei meu primeiro grande prêmio de humor.

domingo, 4 de outubro de 2009

Fauna de boteco

Um bom boteco ganha notoriedade pela fauna que se aboleta em seu regaço para molhar o bico e procurar a salvação para o mundo. E namorar, se der tempo. Os outros bares e lancherias do bairro, de forma pejorativa, se referem a ele como "o bar dos bêbados", como se a emborrachação ocorresse apenas lá. Mas não seria de todo errado afirmar que a concorrência esconde uma inveja do boteco pela riqueza humana encontrada em seu recinto – e pelo mistério que leva uma fauna tão rica e surpreendente a se reunir num lugarzinho apertado e sórdido.
Justo quando essa gente poderia muito bem ir a locais iluminados, aparentemente asseados, com televisão ligada em futebol full-time e que se nega a servir martelinho no balcão.

Todavia, a mais heróica fauna do boteco nem chega a ser humana, embora tenha potencial comprovado pra isso. Ela vive no local e do local, coisa que muito sujeito só não faz, porque o bodegueiro o varre para fora antes de fechar.

Sob a ótica da ciência, um ponto guarnecido por gatos não deveria ser infestado de ratos. Mas a lógica do conhecimento não encontra guarida no boteco. A natureza é sábia quando adapta o espírito da casa para as diferenças desse ecossistema. O gato desfila por baixo das mesas e senta-se no degrau da frente, roçando as pernas dos fregueses, enquanto os ratos andam por baixo do balcão e fazem a festa na despensa.

O rato de boteco é diferente dos seus parentes de outros lugares. É uma mutação surgida durante a Peste Negra, robustecida na Europa devastada, que migrou em navios portugueses e espanhóis para fazer a vida e engordar no novo mundo. O primeiro europeu a pisar nas margens do Guaíba não foi um nobre lusitano, mas sim um ratão que comandou um motim e tirou a embarcação do naufrágio na barra de Rio Grande. O que fez depois de ingerir quatro litros de rum. Cadê a estátua desse magnífico roedor?

Os ratos e o gato do boteco se respeitam numa tolerância reverente. O gato não incomoda os ratos em troca do direito de partilha nos ataques ao almoxarifado, ao lixo, à cozinha e aos pratos de petiscos. O mais cobiçado é a lingüiça calabresa que navega em azeite no mostruário de vidro em cima do balcão, ao lado do vidro de ovos roxos em conserva. Quando um freguês pede a calabresa, todos os animais da casa param em sinal de respeito, como se fizessem continência à bandeira nacional. Pode ser a última visita do sujeito ao boteco. Ou pior, muito pior, pode ser a última calabresa da casa. O que mais se deseja é que sobre um pedaço e que ele seja jogado no lixo, onde será feito um banquete romano.

As baratas, que funcionam como batedores nos espaços mais remotos e inacessíveis do boteco, metem-se nas frestas em busca de sinais alvissareiros. Na possibilidade de algum manjar ser descartado, os machos abrem a porta do freezer para que os ratos roubem a cerveja, enquanto o gato faz a guarda. O gato cobra caro por este serviço, e já foi visto pegando ficha em reunião dos AA.

Restam os cachorros sobreviventes. Se há um gato se lambendo na porta, há ratos e baratas jogando pôquer lá nos fundos. Os cachorros atravessam a rua e desviam o olhar do boteco arrepiados de medo. Já ouviram falar do ritual de passagem daqueles ratos para a vida adulta. O candidato precisa devorar um poodle e cuspir a coleira sem que a bicha na outra ponta da corrente perceba. O clima ficou mais tenso quando começaram a aparecer focinheiras mastigadas na calçada...

(Publicado em http://www.muffuletta.com.br/ em 2008)

sexta-feira, 25 de setembro de 2009

Caminhão de mudanças

Era a namorada que, após algumas semanas comigo, chegou dirigindo seu caminhão de mudanças e me ordenou: entra! Subi na carroceria e, surpreso, deparei com todas as minhas coisas acomodadas ali. Quem disse que eu queria isso? Vociferei uma praga horrenda quando o veículo entrou em movimento e num zás aquela joça perdeu o freio, entrando de mau jeito na esquina do final da lomba, virando na curva e esparramando tudo pela praça. Antes mesmo que a poeira baixasse, pobre moçoila já se atirava em desespero na tentativa de juntar a cacaria.

Os segredos ficaram deveras contentes por reencontrar a sombra do guarda-chuva extraviado. Umberto Eco e Veríssimo subiram até o parquinho, onde Foucault gargalhava após trocar seu pêndulo por um balanço vermelho. Meu olhar de desconfiança caiu direto sobre a mão que já movimentava uma caneta de desenho. Alemão Blau escapou do livro de tiras para levar uma cerveja ao general, que há décadas vinha passando sede comandando o monumento aos mortos no Paraguai. Inconformidades saltitantes pousadas na copa das palmeiras cagavam sem escrúpulo na cabeça da auto-censura, enquanto um rebanho de anedotas debochava gordamente à passagem da roupa de domingo.

Pela sarjeta escorrem vários amores, mas, antes que cheguem à boca-de-lobo, jogam âncoras para observar um cachorro que arrasta pelos cabelos a minha galinha mais pervertida. O baú da hipocrisia faz que nada vê, trancado junto a um poste, sem perceber que o cinismo, livre do seu frasco, já lhe arromba o cadeado.

Cacoetes fazem algazarra sobre os fios de luz, provocando o riso dos pardais. Caricaturas se libertam das pastas e se amontoam no campinho de futebol, onde as canelas são sempre mais importantes do que a bola. Meu anjo da guarda, cuja verdadeira vocação era a de árbitro, tem as asas depenadas em 32 segundos. As boas idéias pulam pela calçada vestindo minhas cuecas – que é onde ficam a maior parte do tempo. A decência e a vergonha conversam com a libido ao redor de uma garrafa de testosterona.

Sinto a piedade por perto, mas é o sadismo que se aboleta sobre a porta quebrada de um armário, deliciado com o espetáculo. As revistas de mulher pelada se desmancham ao vento, e acho que nunca a praça ficou tão florida.

Tudo o que tenho está ali, esparramado na desordem do acidente. Fico dono daquilo de que abro mão, do que dou ao mundo. O essencial carrego comigo. E isso a moça jamais vai entender. Passará horas ou dias tentando juntar a minha mudança que ela tanto queria. Então, quando o caminhão estiver novamente consertado e cheio, somente a tralha inútil terá restado.

Precários